Título: Flores da Ruína
Autoria: Patrick Modiano
Editora: Record
Nº de páginas: 144
Gênero: Ficção literária
Nota: ★★★
Em 24 de abril de 1933, dois jovens cônjuges se suicidam em seu apartamento em Paris. Naquela noite, eles teriam se encontrado com diversas pessoas e foram dançar. Trinta anos depois, o narrador tenta reconstruir a história deles, que parece se cruzar com a sua própria. Cada pergunta suscita outras, como um eco, ao curso de andanças fantasmagóricas por Paris, de lembranças que retornam à memória…
Minha história com o Modiano – Nobel de Literatura de 2014 – é bem peculiar. Eu e o maridão temos os três livros que a Record publicou dele – Remissa da Pena, Flores da Ruína e Primavera de Cão – mas estavam lá, jogados, nunca antes lidos. Um dia chuvoso, decidi que queria ler ~literatura séria~. Peguei Primavera de Cão. Absolutamente fantástico. Descobri que esse era o terceiro da “trilogia”. Fiquei muito irado. Peguei Remissa da Pena. So-so. Peguei Flores da Ruína. É desse que vou falar agora. Mas o sentimento que fica é: como diabos esse cara ganhou o Nobel? Não que eu seja tiete do Murakami (Mumuzinho para os íntimos), mas é difícil acreditar que os livros do Modiano representem o suprassumo da ficção literária mundial.
Flores da Ruína é melhor que Remissa da Pena para mim, mas, ainda assim, inferior a Primavera de Cão. É mais um desses Livros sobre Paris que Modiano parece sempre escrever, sem um enredo firme, composto de vários causos com vários personagens aparentemente comuns dele – os homens mais velhos misteriosos, as belas jovens fugindo de um opressor, as mulheres mais velhas confiantes e protetoras, os universitários, esse tipo de coisa.
Este parece ser dividido em duas partes muito claras: a primeira, que trata de um suicídio duplo – um red herring, um “false start”, porque este suicídio nunca é examinado até o fim e nem é importante; o autor o abandona e deixa que os outros causos tomem conta da narrativa – que é cheia de referências confusas a Paris e à França, e um segundo que trata dos causos comuns modianescos.
A escrita dele é sempre simples e confortável, e eu gosto bastante de ouvi-lo falando dos causos – mais do que ele enrolando sobre Paris – mas, realmente, senti que faltou um personagem em especial para que fosse aprofundado. Em Primavera de Cão há Francis Jansen, que é o fio condutor do livro todo; em Remissa da Pena há a trupe que toma conta do protagonista e do irmão, em especial Annie e Helène; neste, há “Pacheco” – o homem mais velho misterioso à Jansen – e a Dinamarquesa – a mulher mais velha confiante à Annie – mas nenhum dos dois toma o papel de fio condutor da narrativa.
Mas uma coisa que gosto muito na narrativa dele é a nostalgia: o senso de nostalgia, o jeito que ele fala de Paris, das pessoas que surgem e vão, da expectativa de um tempo que já se foi e não voltará… assim até eu sinto falta da França.
É um bom livro, mas nada excepcional. Não é o ideal para se começar a ler Modiano, imagino. Deixo isso com Primavera de Cão. Esse sim trata de temas muito mais claros e muito mais profundamente.
(Cara, como foi que ele ganhou o Nobel? Fica aqui a dúvida, porque fora Primavera de Cão, não vi nada extremamente excepcional dele… talvez nada ainda tenha sido publicado no Brasil… oh não, estou modianando, mandando essas reticências infinitas…)